Acerca
da adoraçam y offerta dos Reis, considera primeiramente quam grande foy a
devaçam destes sanctos varoês, pois por elle sairâo de suas terras y se poseram
a hum tam comprido y tam perigoso caminho y a tantos trabalhos como nelle
passariam, soo por ver com os olhos corporaes, ao que ja tinham visto com os olhos
da fe, porque sabiam quam bemaventurados haviam de ser os olhos que o vissem[1].
O qual sem duvida he pera grande confusam nossa que tam mal acudimos aa casa de
Deos y aas missas y officios divinos, onde tam facilmente y com tam curto
caminho poderiamos ver y adorar ao mesmo senhor, que elles com tanto trabalho
buscarâo y adorarâo.
O
segundo considera a fe destes sanctos Reys, a qual de tal maneira convenceo y
cativou seus entendimentos, que os fez adorar por verdadeiro Deos y senhor do
mundo, ao que virâo no de fora o mais pobre y desprezado do mundo. Nam os
offendeo a baixeza da estrebaria, nem a vileza do presepe, nem a pobreza dos
panos, nem as lagrimas y fraquezas do minino, para deixar de crer que aquelle
que choraba no berço, atroava no ceo. Que
fazeis sabios, diz S. Bernardo, que fazeis? A hum minino adorais apousentado em
huma choupana, envolto em panos baixos? He esse porventura Deos? Deos estaa em
seu sancto templo y vos buscay-lo em huma estrebaria y offereceis-lhe thesouros?
Se esse he Rey, onde estaa lo paço real? Onde a cadeira de Rey, onde a cadeira
dos cortezôes? He porventura paço huma estrebaria? Y a cadeira o presepe? Y a
compañía de cortezôes, Joseph y Maria? Como huns homens tam sabios se fazem tam
ignorantes, que adoram por Deos a hum minino tam desprezado, assi na idade como
na pobreza dos seus?[2].
Todas estas difficuldades que aquí achava a prudencia do
mundo, venceo o lume do ceo, sojigando com a fe a razam y acatando o siso do
homem a sabedoria de Deos. Porque mais razam havia pera crer ao que a guia do
ceo lhes dizia, que ao que a razam humana conjecturava, poi nesta poode haver
muitos enganos, na outra nam.
Fray Luis de Granada, Obras Completas, t. XXI, F.U.E., Madrid 1999 p. 264-7
Transcripción del texto portugués
de José Luis de Almeida Montero; traducción al español de Justo Cuervo
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