jueves, 2 de enero de 2014

Sermam na festa da Adoraçam dos Reis

Acerca da adoraçam y offerta dos Reis, considera primeiramente quam grande foy a devaçam destes sanctos varoês, pois por elle sairâo de suas terras y se poseram a hum tam comprido y tam perigoso caminho y a tantos trabalhos como nelle passariam, soo por ver com os olhos corporaes, ao que ja tinham visto com os olhos da fe, porque sabiam quam bemaventurados haviam de ser os olhos que o vissem[1]. O qual sem duvida he pera grande confusam nossa que tam mal acudimos aa casa de Deos y aas missas y officios divinos, onde tam facilmente y com tam curto caminho poderiamos ver y adorar ao mesmo senhor, que elles com tanto trabalho buscarâo y adorarâo.
            O segundo considera a fe destes sanctos Reys, a qual de tal maneira convenceo y cativou seus entendimentos, que os fez adorar por verdadeiro Deos y senhor do mundo, ao que virâo no de fora o mais pobre y desprezado do mundo. Nam os offendeo a baixeza da estrebaria, nem a vileza do presepe, nem a pobreza dos panos, nem as lagrimas y fraquezas do minino, para deixar de crer que aquelle que choraba no berço, atroava no ceo. Que fazeis sabios, diz S. Bernardo, que fazeis? A hum minino adorais apousentado em huma choupana, envolto em panos baixos? He esse porventura Deos? Deos estaa em seu sancto templo y vos buscay-lo em huma estrebaria y offereceis-lhe thesouros? Se esse he Rey, onde estaa lo paço real? Onde a cadeira de Rey, onde a cadeira dos cortezôes? He porventura paço huma estrebaria? Y a cadeira o presepe? Y a compañía de cortezôes, Joseph y Maria? Como huns homens tam sabios se fazem tam ignorantes, que adoram por Deos a hum minino tam desprezado, assi na idade como na pobreza dos seus?[2].
            Todas estas difficuldades que aquí achava a prudencia do mundo, venceo o lume do ceo, sojigando com a fe a razam y acatando o siso do homem a sabedoria de Deos. Porque mais razam havia pera crer ao que a guia do ceo lhes dizia, que ao que a razam humana conjecturava, poi nesta poode haver muitos enganos, na outra nam.
                 
          
Fray Luis de Granada, Obras Completas,  t. XXI, F.U.E., Madrid 1999 p. 264-7

Transcripción del texto portugués de José Luis de Almeida Montero; traducción al español de Justo Cuervo





[1] Mt 13, 16
[2] S. BERNARDO, In epiphania Domini, sermo 2, 1: PL 183, 147

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